quarta-feira, 17 de junho de 2009

ÁGUIA OU GALINHA?


O “eu dona de casa” me caiu como um raio em uma tarde ensolarada.
Sempre pensei ser águia
Que me apoderara de todos os domínios do céu
Que era capaz de repintar a vida a cada dia para que ela nunca conhecesse a rotina
Tudo estava sob controle
Na verdade o que merecia controle não me valia atenção
Nada me escapava!

Era assim águia!

Naquela tarde
Olhei-me e pensei: águia?
Que nada! Senti-me galinha
Presa a um ciclo infinito que desenhei ao meu redor
Rotina?
Todos os dias o cardápio, os banhos das crianças, a vassoura, as reuniões escolares, o rodo, as roupas, as louças, os armários, o cão, a tartaruga, as plantas, a cama, o lazer, a lição, as boas maneiras, o trabalho, as frustrações que me invadem, o mercado, a escola, a empregada, a minha família, a dele, as meias furadas, as calças curtas o sofá que ficou velho, e isso e aquilo...
Observei-me vendada... Como se houvesse perdido meus poderes de caçadora.
Tornara-me uma criatura domesticada.
E assim foi por longos anos... Uma luta mental entre dois animais
Um selvagem e outro doméstico
Até que em uma longa crise, e aprendi que elas são muito importantes.
Recordei atônita, de longe, por um longo tempo, como quem vê um álbum de fotos antigas
Teria eu sido águia quando imaginava?
Como poderia ser águia sem ter que me desdobrar?
Onde estavam todas aquelas certezas? O que me dera tantos poderes?
Enxerguei a galinha que eu tanto temia ter me tornado, tão frágil, tão superficial, tão sem direção.
Minha visão era capaz de ir longe. Mas iria tão longe ou iria apenas até aonde meus olhos sentiam-se confortáveis em enxergar?
Pude compreender que águia sou hoje, que sou incompreensivelmente capaz de administrar tudo que me compete... De voar longe, visualizar os limites do horizonte e trazê-los para casa como experiência. Sou capaz de dividi-los com minhas três filhas na linguagem de cada uma, de trocá-los com meu marido e fazer de todos os olhares uma nova forma de saborear a vida.
E quando volto para casa, mesmo sabendo que aquele tornado me espera, penso na delícia do meu ninho, não como um ser domesticado, mas como uma ave poderosa que sabe que o mundo continua ali e que o ninho que construí é grande o bastante para caber toda minha liberdade, todos os meus sonhos.
Descobri que o mais delicioso disso tudo é ser águia em bando, em um grande bando como o meu. Mesmo que ele te dê tanto trabalho!
Hoje sou dona de casa sem problemas com essa expressão, sou a dona do meu ninho!

Giô.

Nenhum comentário:

Postar um comentário